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Será o EBITDA o melhor instrumento de avaliação de empresas?
 
Nos últimos anos, um indicador financeiro passou a ser amplamente utilizado pelas empresas e pelos analistas de mercado como a principal e às vezes a única avaliação de desempenho e/ou do valor das empresas: o EBITDA. Além disso, o final da década de noventa e o início do novo milénio foi marcado por inúmeras negociações de empresas que também tiveram como único parâmetro o EBITDA. Este tornou-se rapidamente como uma importante ferramenta de avaliação de performance operacional.
Mas, afinal de contas, o que é o EBITDA? Será uma boa ferramenta de avaliação da empresa? O EBITDA mede, realmente, os resultados da empresa? Porque é que empresas com acções negociadas em bolsa fazem questão de apresentar o resultado do seu EBITDA?

O que é o EBITDA ?

A sigla EBITDA corresponde ao “Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization”. Em português, significa “Resultados antes de Encargos Financeiros, Impostos, Amortizações e Provisões”. Muito embora, o EBITDA também seja apresentado como “Fluxo de Caixa Operacional (Cash Flow operacional)” o mesmo leva em conta apenas o desempenho operacional da empresa e não reflecte o impacto nos resultados, dos itens extraordinários e das despesas com investimento e nas mudanças do fundo de maneio.
O EBITDA tornou-se conhecido e ganhou notoriedade nos EUA na década de 70. Nessa altura, o EBITDA era utilizado pelos analistas como uma medida temporária para avaliar o tempo que seria necessário para que uma empresa, com grande volume de investimento em infra-estrutura, viesse a prosperar sob uma perspectiva de longo prazo. Ao excluir os juros dos recursos financiados e a depreciação dos activos, os investidores conseguiam projectar uma medida de performance da empresa no futuro, considerando apenas a actividade operacional.

Como se calcula o EBITDA ?

O cálculo do EBITDA é muito simples: ao Lucro Operacional Líquido antes dos impostos adicionam-se os encargos financeiros, amortizações e provisões.

Argumentos dos defensores do EBITDA:

Os defensores da aplicação do EBITDA sustentam, entre outros, os seguintes argumentos:
• Pode ser utilizado na análise do lucro entre empresas;
• Por eliminar os efeitos dos financiamentos e das decisões meramente contabilísticas, a sua utilização pode fornecer uma boa análise comparativa, pois mede a produtividade e a eficiência do negócio;
• O EBITDA como percentual de vendas pode ser utilizado para identificar empresas que sejam as mais eficientes dentro de um determinado segmento de mercado;
• O EBITDA pode ser utilizado para comparar a tendência do lucro nas indústrias pesadas (ex.: siderurgia e automóvel) e até as de alta tecnologia, porque remove da análise, o impacto dos financiamentos de grandes investimentos de capital;
• A variação percentual do EBITDA de um ano em relação a outro mostra aos investidores se uma empresa conseguiu ser mais eficiente ou aumentar a sua produtividade;
• O EBITDA é uma excelente ferramenta de medição para organizações que apresentem uma utilização intensiva dos equipamentos (mínimo de vinte anos).

Críticas à utilização exclusiva do EBITDA:

Embora reconhecendo a validade relativa da utilização do EBITDA, os críticos apresentam os seguintes argumentos:
• É muito comum que empresas contratem financiamentos e empréstimos para alavancar as suas operações. Assim, as empresas podem apresentar despesas financeiras superiores às receitas financeiras. Como também é comum as empresas apresentarem sobre seus lucros operacionais, é fácil presumir-se que o EBITDA seja superior ao lucro líquido, sendo que, em muitos casos, o EBITDA é positivo muito embora a linha final da demonstração de resultados se apresente prejuízo líquido;
• O EBITDA não considera as mudanças de fundo de maneio e portanto, sobrevaloriza o fluxo de caixa em períodos de crescimento do fundo de maneio;
• O EBITDA pode dar uma falsa perspectiva sobre a efectiva liquidez da empresa;
• O EBITDA não considera o montante de reinvestimento requerido, especialmente nas empresas que apresentam activos operacionais de curta duração;
• O EBITDA nada diz sobre a qualidade dos lucros;
• Este instrumento ignora as distinções existentes na qualidade dos fluxos de caixa resultantes de diferentes práticas contabilísticas (nem todas as receitas geram dinheiro em caixa);
• O EBITDA ignora atributos específicos na análise de determinadas empresas/negócios;
• A aparente hipótese de estar livre de manipulações caiu por terra com o escândalo da Worldcom, quando esta reconheceu que 7 biliões de USD de despesas operacionais foram consideradas como investimentos de capital, o que provocou profunda distorção no lucro e consequente o aumento do EBITDA;
• Por ser de fácil apuramento, o EBITDA é frequentemente utilizado como a mais importante medida de performance do resultado de muitas empresas, mas o seu resultado pode dar uma falsa ideia do verdadeiro potencial de investimento numa empresa, justamente por não reflectir adequadamente, a verdadeira capacidade de gerar cash-flow no futuro.

Tendências para o futuro:
Após os escândalos contabilísticos de grandes empresas, a preocupação na utilização do EBITDA tem vindo a aumentar. Especialmente nos Estados Unidos, muitas empresas que davam excessiva ênfase ao EBITDA nas suas comunicações sobre os resultados estão a dar mais atenção a outros indicadores.
Muito embora a ênfase possa vir a ser menor, parece que o EBITDA continuará sendo muito utilizado porque é um bom indicador para a avaliação da tendência dos lucros da actividade principal de uma empresa. Além disso, o mercado deverá valorizar mais a variação percentual do indicador em relação ao período anterior do que o valor isolado do EBITDA num determinado momento.
Em síntese, parece-me que o EBITDA continuará a ser um indicador relevante e importante, porém com uma melhor compreensão de suas limitações e portanto, outros indicadores tradicionais também continuarão presentes nas análises e avaliações de investimentos e performances de muitas empresas. Já agora, sabe qual é o EBITDA da sua empresa?


Pedro Santos | Administrador - NBB

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